Aposentado levado morto a banco tinha comportamento discreto, segundo vizinhos

CAMPINAS, SP (FOLHAPRESS) – A discrição com que o escrivão de polícia aposentado Laercio Della Colleta, 92 anos, manteve por cerca 60 anos morando no centro de Campinas (93 km de SP), mudou após sua morte, no ultimo dia 1º. No dia seguinte, após cerca de 12 horas de seu falecimento, de causas naturais, segundo laudo divulgado pela polícia, seu corpo foi levado até uma agência bancária, no centro de Campinas, por Josefa de Souza Mathias, 58 anos, que afirma ter mantido uma união estável com o idoso. Josefa, que disse estar desempregada, teria tentado sacar a aposentadoria do escrivão, segundo a polícia, levando-o morto à agência. Isso gerou uma repercussão nacional que Colleta jamais imaginaria se envolver, segundo amigos e conhecidos ouvidos nesta segunda-feira (19) pelo Agora. Moradora do mesmo andar onde o policial aposentado residia, na região central da cidade, uma aposentada de 89 anos afirmou que conhecia Colleta há 56 anos. “Ele sempre foi um homem discreto, na dele. Saía para comprar o que precisava e não dava muitos detalhes de sua privacidade.” Mesmo após ficar viúvo, há cerca de dez anos, ele continuou mantendo a discrição, inclusive quando começou a receber Josefa em casa. A desempregada afirmou, em depoimento, que se relacionava com o idoso havia cerca de dez anos. Ela foi indiciada por tentativa de estelionato qualificado e vilipêndio de cadáver (desprezar ou humilhar corpo). Josefa nega ter levado o aposentado já morto ao banco, segundo disse a sua defesa à reportagem. A vizinha do idoso acrescentou que a filha dele, adotada, deixou o apartamento após a desempregada entrar na vida do escrivão aposentado. “Não sei o que aconteceu, mas a filha sumiu depois que a outra apareceu”, disse. O delegado Cicero Simões da Costa, titular do 1º DP de Campinas, afirma que nenhum parente se apresentou na delegacia após a morte do policial aposentado. Até em seu velório e sepultamento, no cemitério Parque Flamboyant, não teve nenhum parente presente. “Essa mulher [Josefa] também não é muito de falar. Só sei que ela e o Laércio começaram a ser vistos juntos faz uns cinco anos”, afirmou a vizinha, que pediu para não ter o nome publicado. Na rua, Colleta e Josefa, costumavam caminhar lado a lado, indo até à praça dos Pombos, que fica a poucos metros do prédio onde ambos residiam. A suspeita mora três pisos acima do andar do policial aposentado. “Quando eu vi os dois juntos, jurava que a moça era cuidadora dele. Achava isso pela diferença nítida de idade e por eles não manifestarem nenhum carinho juntos”, afirmou a atendente Fátima Pereira dos Santos, 37 anos. Ela trabalha há 17 anos na região e acrescentou que o idoso costumava comprar pão, geralmente sozinho, no comércio onde ela faz atendimento. O jornaleiro Matheus Tinti, 25 anos, atendeu ao idoso entre 2014 e este ano. Ele reforçou o comportamento discreto de Colleta, que costumava comprar jornais e trocar dinheiro na banca próximo à sua casa. Ele acrescentou que o idoso também permanecia longos períodos na entrada do prédio onde morava, observando o movimento da avenida Francisco Glicério. O edifício é misto, tendo escritórios e residências no mesmo imóvel. A discrição de Colleta seria uma “herança” de quando atuou como policial civil. Por causa de sua avançada idade, a Associação dos Escrivães de Polícia do Estado de São Paulo não soube informar quando ele se aposentou ou ingressou na instituição.

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