RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Há 25 anos à frente da instituição, o presidente da Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro), Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, se reelegeu nesta segunda-feira (17) para seu nono mandato. Gouvêa Vieira comandará a entidade por mais quatro anos. Por 58 votos a favor, 42 contra e 1 em branco, Gouvêa Vieira derrotou uma antiga aliada -a vice-presidente da federação e presidente licenciada da Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ), Ângela Costa-, em uma disputa marcada por troca de acusações e debates acalorados nas redes sociais. Os opositores de Gouvêa Vieira queixavam-se de falta de transparência na administração de um orçamento anual de cerca de R$ 1 bilhão e chegaram a recorrer à Justiça do Trabalho contra a contratação de uma empresa para a realização da votação por meio eletrônico. Prevaleceu, no entanto, o voto online. Esse não foi o único percalço enfrentado por Gouvêa Vieira. Adversários acusaram o dirigente de desperdício dos recursos do Sistema S, como os mais de R$ 110 milhões gastos para a instalação da Casa Firjan -segundo eles, um “palacete” na Zona Sul do Rio- e os custos para mudança da marca da federação fluminense. Em resposta, Gouvêa Vieira disse associar seus críticos “a uma verdadeira vanguarda do atraso, jurássica”. A disputa invadiu as relações pessoais. Chegou à cúpula da campanha adversária a informação de que Gouvêa Vieira telefonara para eleitores relatando os laços de amizade de Ângela Costa com o economista Marcelo Sereno. O presidente da Firjan teria tomado a iniciativa ao saber que Sereno tinha pedido votos para a chapa de oposição. Assessor do ministro José Dirceu no governo Lula e ex-secretário de comunicação do PT, Sereno chegou a ser preso em operação deflagrada em abril de 2018, por ter sido “indicado como o responsável pelas transações financeiras operadas pelo Fundo de Pensão Núcleos (servidores das estatais de energia nuclear) tendo manipulado o fundo para desviar dinheiro diretamente para o PT, em 2006”. Sereno, que nega irregularidades, foi solto 40 dias após a prisão. Aliados de Ângela Costa entenderam o gesto como uma tentativa de associá-la aos alvos da Lava Jato e ao PT, estabelecendo uma contraposição à proximidade de Gouvêa Vieira com o presidente Jair Bolsonaro. Em nota encaminhada à reportagem, a candidata de oposição nega qualquer ligação com o PT, afirmando que o próprio Gouvêa Vieira a apresentou ao petista. “Encontrei o Sr. Marcelo várias vezes na residência do próprio Eduardo Eugênio, inclusive à ocasião do casamento de uma de suas filhas. Nem por isso o acuso de ter qualquer tipo de ligação com a Lava Jato”, afirmou Ângela Costa à época. Não foi só. Em junho, presidentes das federações das indústrias do Norte e Nordeste enviaram uma dura carta a Gouvêa Vieira. Nela, chamaram o presidente da Firjan de preconceituoso e inepto. Em maio, Gouvêa Vieira detonou uma crise ao reclamar, em videoconferência, do critério de distribuição dos recursos a cargo da CNI (Confederação Nacional das Indústrias), que mantém um fundo de reservas destinado a estados economicamente frágeis. Na videoconferência com presidentes dos sindicatos do Rio, Gouvêa Vieira se queixou do critério para a eleição do presidente da CNI, dizendo que a maioria dos votos são de “estados que não têm capacidade de atendimento social relevante”. “Infelizmente eles têm maioria política e estão muito confortáveis, porque conversam lá com o presidente e recebem as benesses que bem entendem. Aqui no Sul é diferente. Temos lideranças íntegras, que administram bem os seus estados”, reclamou à época. Reeleito, Gouvêa Vieira terá mais quatro anos para se reconciliar com os presidentes das demais federações. Para o mandato que se inicia em outubro, o presidente da Firjan se comprometeu a dar continuidade a ações de enfrentamento à Covid-19. Após a divulgação do resultado, Gouvêa Vieira afirmou que se dedicará ao recém-lançado programa de retomada em bases competitivas do Estado do Rio de Janeiro. “São pautas com um potencial de quase R$ 123 bilhões em investimentos nos próximos anos, em concessões e PPPs, saneamento básico e gás natural. Vamos contribuir para que o estado do Rio de Janeiro supere a tempestade perfeita que atravessa há anos e volte a crescer, estimulando negócios e gerando emprego e renda para sua população.”