SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Caso os 18 pré-candidatos à Prefeitura de São Paulo confirmem suas candidaturas nas convenções entre 31 de agosto e 16 de setembro, os paulistanos terão o maior arco de opções de voto desde a redemocratização. A multiplicação de postulantes é uma das consequências do fim das coligações para as eleições proporcionais, que valerá neste ano pela primeira vez. Para a maior parte dos partidos, a disputa por vagas na Câmara Municipal passa pela estratégia de lançar nome para o Executivo. A maior parte dos pré-candidatos e dirigentes partidários associam o possível recorde diretamente à nova regra, mas defendem suas chances de chegar à prefeitura. Eles não admitem um propósito principal de fortalecer postulantes a vereador com campanha conjunta, divulgação no horário eleitoral de TV e rádio, repasse de recursos e obtenção de votos de legenda. Outros fatores explicam a lista gigante de prefeitáveis, como o quadro de fragmentação partidária –a esquerda dita progressista e a direita que orbita em torno do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) têm digladiado dentro de seus próprios campos. O quadro, contudo, pode mudar até o último momento das convenções, caso algum dos nomes colocados resolva se aliar ao de outro partido, já que a coligação na eleição majoritária é permitida. A apresentação de pré-candidato faz parte, inclusive, do jogo de negociação das legendas. Na capital paulista, ao menos nove partidos que estavam coligados em diferentes arranjos na eleição majoritária de 2016 lançaram pré-candidatos neste ano: PTB, Patriota, PC do B, PSB, PV, PSL, PSD, PCB e PTC. No pleito anterior, 17 partidos estavam coligados na disputa proporcional e agora estão obrigatoriamente sozinhos. Desses, ao menos 13 lançarão chapa de vereador –completa, na maioria dos casos (com 83 nomes, equivalente a 150% do total de cadeiras na Câmara, que é 55). Para eleger vereadores nas novas regras, os partidos apostam em lançar chapas completas, usar nomes competitivos como puxadores de votos ou pulverizar os votos em uma quantidade maior de nomes médios –além de apelar ao candidato próprio à prefeitura. No PTB, o lançamento do nome do advogado Marcos da Costa é visto como uma forma de impulsionar os postulantes a vereador, mas o presidente estadual da legenda, Campos Machado, refuta a tese de que esse seja o objetivo. “Não estamos disputando a eleição só por disputar nem estamos entrando apenas para fazer número”, afirma. Desde 2000 o PTB não tem candidato próprio na corrida municipal paulistana. No PV, que colocou a pré-candidatura do ex-presidenciável Eduardo Jorge, o discurso é o de busca de fortalecimento da legenda e da agenda ambiental, mas o benefício potencial para a chapa de vereadores é reconhecido pelo presidente estadual da sigla, Roberto Tripoli. “Não há dúvida de que, com candidatura própria, você tem mais tempo de TV. Dá publicidade ao número do partido”, diz. Os verdes, porém, admitem abrir mão da candidatura e negociam com outras siglas. A Rede Sustentabilidade anunciou a intenção de ter candidata, mas ainda não se decidiu entre quatro opções. A presidente municipal do partido, Duda Alcântara, diz não ver relação direta entre ter um nome à prefeitura e obter votos para vereadores. Para ela, o objetivo de ter uma representante é “contribuir para a visibilidade de candidaturas femininas progressistas, fortalecer o nome e o projeto do partido na capital e debater sustentabilidade”. Apartado do PT depois de sucessivas alianças, o PC do B também vem sendo questionado se a candidatura do deputado federal Orlando Silva é uma tática para, mais do que chegar à prefeitura, ajudar a legenda a voltar a ter pelo menos um representante na Câmara Municipal. “A nossa candidatura surge por uma leitura de que é necessário que as forças políticas se coloquem e apresentem seus projetos e propostas. E, claro, nos interessa eleger uma bancada”, diz o deputado, negando relação direta entre uma coisa e outra. Levy Fidelix, presidente do PRTB e pré-candidato, também nega estar no rol de nomes lançados apenas para eleger mais vereadores. “Estou indo pra valer, agora tenho a maior possibilidade que já tive na vida”, diz ele, que pretende se eleger colado ao bolsonarismo. Para Fidelix, a nova regra pode ser benéfica para siglas pequenas. “Estar numa coligação com vereadores concorrendo à reeleição desestimula. Ninguém quer ser cabo eleitoral de vereadores tradicionais. Agora o candidato [de partido pequeno] tem uma chance real”, afirma. Outros que negam serem figurantes na campanha à prefeitura são o Patriota, de Arthur do Val, e o Republicanos, de Celso Russomanno, que chegou a negociar apoio à reeleição do prefeito Bruno Covas (PSDB), mas desistiu. “A candidatura é o projeto inteiro, de não usar fundo eleitoral, de eleger quem nunca disputou” diz Renato Battista, presidente municipal do Patriota, para quem Arthur chegará ao segundo turno. Marcos de Alcântara, presidente do Republicanos, diz que conta não com a competitividade de Russomanno, mas “com a eleição dele a prefeito” para eleger vereadores. Pedro Nepomuceno, presidente municipal do Solidariedade, diz que o partido quer lançar Marta Suplicy não só para ajudar na eleição de vereadores, mas também por seu legado na cidade. Ela ainda flerta com a vice de Covas. Andrea Matarazzo (PSD) tampouco considera que sua pré-candidatura serve apenas para alavancar vereadores e diz ver chances de seu partido voltar a comandar a capital. “Partidos preocupados em fazer bancada de vereadores lançaram pré-candidatos a prefeito. Só não há mais candidatos porque a prefeitura usa a máquina para fazer alianças”, diz sobre a estratégia vigente nesta eleição. Para o presidente da Câmara Municipal, Eduardo Tuma (PSDB), que é pré-candidato à reeleição, o fim da coligação proporcional minou acertos entre os partidos no plano majoritário. “Alguns partidos que poderiam se unir à campanha do prefeito vão lançar candidaturas próprias com a intenção de ter o partido mais visível na eleição”, afirma. Tuma acredita que a regra fará diminuir o número de partidos com representantes eleitos na Câmara e será prejudicial as siglas pequenas. “O PSDB, na última eleição, fez 13 cadeiras, mas elegeu 11 vereadores, duas vagas foram cedidas para partidos coligados. Essa era uma reclamação da população: eu votei no PSDB e elegi um candidato de outro partido.” Para o cientista político Humberto Dantas, o número de candidatos deve reduzir até o prazo final das convenções, obrigando alguns dos partidos a adotarem uma estratégia para os postulantes ao Legislativo que não dependa da combinação com o nome para o Executivo. “Os partidos engrossam o discurso [sobre candidaturas colocadas], mas eu ficaria com os dois pés atrás”, diz o analista, ligado ao CLP – Liderança Pública. “Este é o momento da negociação. É natural que queiram se sentar à mesa com o ‘preço’ lá no alto.” Sobre a estratégia de lançar nome para prefeito como uma fórmula para fortalecer a chapa para a Câmara, Dantas também é cético. “Não há garantia evidente de que ter postulante com o nome do partido vá garantir um aumento significativo no número de vereadores.”