SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O aniversário de 100 anos da Portuguesa, comemorado nesta sexta (14), reaproximou o clube de um de seus torcedores mais ilustres, o maestro João Carlos Martins. Aos 80 anos, depois de ser convidado para ocupar o posto de embaixador do centenário, ele retornou ao Canindé após sete anos. Desde 2013, ano em que a Lusa foi rebaixada da Série A do Brasileiro, Martins não pisava no estádio. “Aquilo não foi normal”, afirma o maestro e pianista à Folha de S.Paulo, ao relembrar o episódio que resultou na queda do time devido a uma punição pela escalação irregular do atacante Héverton na última rodada. “Infelizmente, por questões éticas, eu prefiro nem comentar. O importante é que o amor pela Portuguesa continua vivo”, diz. Esse sentimento é cultivado pelo maestro desde os seus 8 anos de idade. Ele se recorda do exato dia em que passou a torcer pelo clube, após levar uma bolada no rosto. Era um dia de treino da Portuguesa no Ibirapuera, onde o clube praticava antes de ter um estádio. O então garoto João Carlos morava ao lado do parque, na avenida Conselheiro Rodrigues Alves, e gostava de assistir às atividades da equipe. “Eu ficava atrás do gol vendo o treino. Teve um dia que um atacante foi cobrar um pênalti e o goleiro não conseguiu defender. Como não tinha rede, a bola veio em cheio no meio rosto. Eu rodei umas três vezes e desmaiei”, lembra o pianista. Ela conta que todos pararam a atividade e foram ajudá-lo. E ainda o levaram de volta para casa. “Fizeram isso com tanto carinho que naquele dia eu decidi: esse vai ser o time da minha vida.” A paixão de infância foi retratada em seu filme biográfico “João, o Maestro”, lançado em 2017, no qual ele aparece com a tradicional camisa listrada eternizada por Djalma Santos e Julinho Botelho nos anos 1950. O longa também reproduz um encontro do de Martins com o elenco durante uma excursão do time ao exterior e mostra a saga de superação do músico, que já se submeteu a 24 cirurgias nas mãos devido a problemas que se originaram justamente pelo gosto por futebol. Quando tinha 26 anos e passava uma temporada em Nova York, ele estava passeando no Central Park e encontrou um grupo de brasileiros jogando bola. Entrou na partida, acabou caindo e rompeu um dos nervos do braço. Após uma recuperação difícil, o maestro só conseguiu voltar a tocar com a ajuda de dedeiras de aço. Hoje, devido ao agravamento da condição de suas mãos, o pianista, considerado um dos maiores intérpretes da obra do alemão Johann Sebastian Bach, toca piano com o auxílio de uma luva biônica. Nada que o impeça de fazer uma homenagem ao time do coração. Devido à pandemia do coronavírus, ele exibirá em sua página no Instagram, nesta sexta, a apresentação que faria no Canindé. Para João Carlos Martins, a Portuguesa que tanto o inspirou ao longo dos anos poderia agora buscar inspiração em sua própria história de vida. “Se eu conheci na vida vales profundos e altas montanhas, passei por 24 operações e sempre procurei me reerguer, por que a Portuguesa não pode fazer o mesmo?”, questiona. O sonho dele é voltar a viver momentos como no dia em que o clube goleou o Corinthians no estádio do Pacaembu. “Foi em 1951, a Lusa ganhou de 7 a 3 e eu senti como se fosse o dia mais importante da minha vida.”