BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Poucas horas depois de ter admitido que o governo avaliou furar o teto de gastos, o presidente Jair Bolsonaro acusou a imprensa de distorcer suas declarações da véspera voltou a afirmar que sua administração tem como norte a regra fiscal. “Quando indagado na live de ontem sobre ‘furar’ o teto, comecei dizendo que o ministro Paulo Guedes (Economia) mandava 99,9% no Orçamento. Tudo, após essa declaração, resumia que por mais justa que fosse a busca de recursos por parte de ministros finalistas, a responsabilidade fiscal e o respeito [à] Emenda Constitucional do ‘Teto’ seriam o nosso norte”, escreveu Bolsonaro nas redes sociais, na manhã desta sexta-feira (14) Apesar de acusar veículos de comunicação de terem distorcido suas declarações, o mandatário foi claro na ocasião. “A ideia de furar o teto existe, o pessoal debate, qual o problema? Na pandemia nós temos a PEC de Guerra, já furamos o teto [de gastos] em mais ou menos R$ 700 bilhões”, disse. O presidente afirmou então que foi perguntado por auxiliares se era possível extrapolar o teto em “mais R$ 20 bilhões”. “Eu falei: ‘qual a justificativa? Se for para vírus não tem problema nenhum'”, complementou, ainda na sua live de quinta. Na ocasião, ele também indicou que um dos argumentos defendidos pelos que querem encontrar uma forma de contornar o teto -dispositivo constitucional que limita despesas do governo federal às realizadas no exercício anterior, corrigidas pela inflação- é considerar obras relacionadas a água dentro das ações de combate à pandemia do coronavírus. “Aí o Paulo Guedes fala: ‘tá sinalizando para a economia e o mercado que no teto está dando um jeitinho'”, contou o presidente na live. Na publicação na manhã desta sexta, Bolsonaro disse que a “grande imprensa tradicional virou partido político ao atual governo”. Ele se queixou que as reportagens sobre sua declaração davam conta que ele admitiu que o teto poderia ser desrespeitado. “Apenas posso lamentar essa obsessão pelo ‘furo jornalístico’ onde a verdade é a primeira vítima nesses órgãos de comunicação, que teimam em desinformar e semear a discórdia na sociedade. Vamos trabalhar junto ao Congresso para controlar despesas com objetivo de abrir espaço para investimentos e assim atravessarmos unidos essa crise”, complementou, Não é a primeira vez nesta semana que o presidente é obrigado a prometer publicamente respeito à principal âncora fiscal, que é defendida pelo ministro Paulo Guedes. Na quarta (12), o presidente defendeu o teto de gastos após uma reunião com ministros e os presidentes da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). O encontro ocorreu após as as credenciais liberais do governo terem sido novamente colocadas em dúvida com a saída, no dia anterior, dos secretários do ministério da Economia responsáveis pelas privatizações e pela reforma administrativa. Os agora ex-secretários Salim Mattar e Paulo Uebel deixaram a equipe de Guedes por verem poucos avanços em suas respectivas agendas.