BRUXELAS, BÉLGICA (FOLHAPRESS) – No balanço da terceira noite de repressão violenta a protestos na Belarus, o Ministério de Assuntos Internos diz ter prendido mil pessoas, das quais 17 serão processadas por atentado a funcionários do governo. Segundo o ministério, manifestações contra a reeleição do líder autocrata Alexandr Lukachenko ocorreram em 25 cidades do país e deixaram 51 feridos. Desde o começo dos protestos, na noite de domingo (9), já são 250 hospitalizados segundo dados oficiais, incluindo ao menos uma criança. Julia Chereukho, 5, levou quatro pontos depois que policiais estouraram o vidro do carro em que estava, provocando um corte de 2,5 cm em sua testa. Nas redes sociais, vídeos mostravam tropas de choque retirando motoristas de dentro dos veículos e os espancando. O objetivo era impedir buzinaços contra o governo, mas a agressão foi indiscriminada, segundo Inna, mãe de Julia. Ao site jornalístico independente Tut.by ela disse que estava parada em um congestionamento na cidade de Grodno quando a família foi cercada por policiais. “Mãe, fomos atacados por bandidos?”, perguntou, segundo Inna, a criança com sangue escorrendo pelo rosto, como mostra foto que ela divulgou na internet. Inna acompanhou a menina no hospital, mas o pai de Julia foi detido pela tropa de choque e libertado apenas na manhã seguinte. O Passat da família foi apreendido. Nesta quarta (12), centenas de garotas, a maioria vestida de branco, se perfilaram no centro de Minsk, com rosas nas mãos, também em manifestação por liberdade política no país. Algumas gritavam “Nós podemos!”, mas a maioria pedia silêncio, para evitar repressão. Moradores da cidade que falaram com a reportagem sob condição de anonimato disseram que o governo bielorrusso tem lançado ações de intimidação, com policiais não fardados atacando pedestres e veículos a esmo pela cidade. Um deles relatou ter visto uma van, sem logotipos, perseguir um veículo até bater nele para que parasse. Os ocupantes foram depois espancados. Segundo veículos de informação bielorrussos, o protesto ganhou a adesão de alguns pedestres, mas também rejeição: motoristas gritam “vá trabalhar” ao passar em frente ao local da manifestação. Acabou dispersado pela polícia, mas as garotas deixaram uma fileira de flores no chão. Independente desde 1990, após o fim da União Soviética, a Belarus é governada há 26 anos por Lukachenko, que venceu a única eleição presidencial considerada livre e justa no país, em 1994. O crescimento da campanha da candidata oposicionista independente Svetlana Tikhanovskaia, que reuniu vários grupos e se espalhou por várias cidades do país, deixou mais evidente a manipulação dos resultados eleitorais -o governo anunciou que Lukachenko vencera com mais de 80% dos votos -desencadeando os protestos. Tikhanovskaia, 37, uma dona de casa e mãe de dois filhos que assumiu a candidatura após a prisão de seu marido, o blogueiro Siarhei Tikhanovski, fugiu para a Lituânia na terça (11). Na terça, a União Europeia divulgou um comunicado em nome dos 27 países-membros afirmando que não considera a eleição deste ano livre nem justa e que “as autoridades aplicaram violência desproporcional e inaceitável”. O bloco afirma que pode “tomar medidas contra os responsáveis pela violência observada, prisões injustificadas e falsificação de resultados eleitorais”, mas decisões sobre sanções precisam ser aprovadas por unanimidade e medidas práticas não devem aparecer tão rapidamente. Com um afastamento dos europeus, o governo bielorrusso, já preso à órbita geopolítica e econômica russa, pode ficar ainda mais sujeito às pressões do presidente Vladimir Putin, que pressiona por mais concessões na associação chamada de Estado Único (por meio da qual a Rússia tenta reabsorver a Belarus numa única nação). Embora líderes da oposição tenham pedido que manifestações sejam pacíficas, o governo diz que cinco motoristas jogaram seus carros contra policiais e coquetéis molotovs foram lançados. Em Brest, um manifestante levou um tiro de munição letal, depois de não obedecer a ordem para parar de atacar a tropa, segundo o Ministério do Interior. O governo afirmou que há 14 policiais feridos. Vídeos nas redes sociais mostravam repórteres sendo espancados, embora usassem coletes e crachá de identificação. São ao menos 50 jornalistas presos desde domingo.